Originalmente publicado no agora desaparecido site de Cinema "Improviso Ensaiado", quando os seus coordenadores convidavam realizadores de destaque a partilhar os seus oito filmes de eleição:


As 8 Escolhas de João Paulo Simões

Em entrevistas que tenho dado recentemente, tenho sido confrontado com a questão das minhas referências cinematográficas. Seleccionar aqui 8 filmes não é necessáriamente mais simples, mas posso, pelo menos, dividir a lista em duas categorias: 4 que estariam sempre inexorávelmente presentes e 4 que se manifestaram no momento, mas que poderiam ser substituídos por outras das minhas paixões secretas.
Assim sendo...

Vertigo, Alfred Hitchcock, 1958
Para além de ter uma das mais soberbas bandas-sonoras de todos os tempos, toda uma estética e fotografia inigualáveis e a presença da Kim Novak, o filme fascina-me pela forma como ousa abandonar a coerência do enredo para explorar algo simultâneamente mais profundo e absurdo.
Persona, Ingmar Bergman, 1966
Porque é Cinema puro. Uma obra asfixiante, mas que dá espaço às suas duas excelentes actrizes;  que a cada passo chama a atenção para as diversas componentes cinematográficas, mas que nos oferece um todo de um equilíbrio atmosférico invejável...




Lost Highway, David Lynch, 1997
Um filme implacávelmente fiel ao que pretende expressar por via da personagem central; que, apesar de convidar a múltiplas interpretações freudianas ou jungianas, tem na sua cadência e registo do tempo algo mais ligado à nossa realidade – o que o torna ainda mais incisivo e perturbante.

Pola X, Leos Carax, 1999
Se antes este filme carregava com o peso de uma tradição literária que se reflectia na da família a que o protagonista tenta escapar, agora, perturba-me por se ter tornado uma relíquia assombrada.  O conteúdo ecoa na realidade: com o fim trágico de Guillaume Dépardieu (herdeiro de Gerard) e de Yekaterina Golubeva (também ela filha de privilegiados). E o que ambos representam no filme, a honra e a desonra de uma linhagem, está magistralmente concebido.  

Crash, David Cronenberg, 1996
Um filme de grande rigor, com origem numa das obras mais lúcidas do século XX, que expressa, através de contextos extremos, muito daquilo que se tornou a nossa relação privada com a tecnologia.
A cena da lavagem do carro faz convergir tudo o que é fazer Cinema numa singular e sublime coerência.

Eyes Wide Shut, Stanley Kubrick, 1999
Por demonstrar o típico controle absoluto de Kubrick sobre todos os aspectos, mas também, como derradeira obra, por expôr a fragilidade humana a um nível mais bergmaniano. O filme é um compêndio de cenas que, na sua essência, pertencem a outra época, mas que, com uma precisão absoluta, nos transportam para um sonho desconfortávelmente desperto.   

Claire Dolan, Lodge Kerrigan, 1998
Muito para além daquilo que aos poucos se discerne como o enredo, é um filme que me atrai pelo tom e sobriedade, que estão em constante contraste com o conteúdo sórdido. Existe uma constante ambiguidade, a sublinhar os diálogos, mas que chega a ser extensiva à identidade da própria personagem principal – magistralmente interpretada pela ausente Katrin Cartlidge.

Basic Instinct, Paul Verhoeven, 1992
Por virar Hollywood do avesso e em grande estilo, expondo-nos a todos como voyeurs e cúmplices. Por apresentar na personagem da Catherine Tramell o reverso da medalha da femme fatale de Vertigo. E pelo humor negro, que subverte todas as referências noir – superior a qualquer pós-modernismo que viria a dominar o resto da década... 

#Publicado a 18/06/2013 em Improviso Ensaiado#

Vertigo
Persona
Lost Highway
Pola X
Crash
Eyes Wide Shut
Claire Dolan
Basic Instinct
E brevemente, Os Outros 8 de João Paulo Simões que incluem: